Entrevistamos Neida Oliveira, professora, dirigente nacional da CSP Conlutas e da Construção Socialista, acerca do lançamento da primeira edição do Jornal Lute, informativo sindical e popular.
Qual a ideia e o projeto do “Lute”?
As derrotas políticas e o fim das ilusões da classe trabalhadora com a chegada do PT ao poder têm sido arrasadoras para fragmentar os movimentos.
Aliás, até a solidariedade tão necessária nas lutas da nossa classe diminuíram a tal ponto que hoje quase inexistem.
Sem contar que o fato da burocracia sindical ter sido cooptada pelo o aparelho do Estado trouxe como consequência a perda de credibilidade da maioria dos sindicatos junto às bases.
A classe trabalhadora continua resistindo, seja com greves, atos ou quaisquer outras formas de protestos, mas não conseguirá, por si só, unificar a mobilização e nacionalizar as lutas. Esta situação leva os sindicatos a se voltar apenas para a luta econômica e perder a perspectiva da luta política, a disputa do poder.
A ideia de iniciar a experiência de construir um Jornal – o “LUTE”- parte da necessidade de contribuir nesta perspectiva, no processo de reorganização do movimento sindical e popular.
Quais setores políticos e sociais que formam parte do conselho editorial de “Lute”?
O seu Conselho Editorial inicialmente está formado por dirigentes de vários sindicatos, oposições movimentos sociais e outras organizações que têm como estratégia a reorganização da classe trabalhadora brasileira.
O desfio que está colocado é de conquistar mais adesões para um jornal de abrangência nacional, que possibilite que um trabalhador do RS, por exemplo, tenha conhecimento de uma mobilização que acontece em Goiás; que uma greve em SP seja coberta de solidariedade por trabalhadores do Maranhão, mas que principalmente este instrumento possibilite que as diretorias dos sindicatos, as oposições e dirigentes dos movimentos sociais,se utilizem dele para discutir a política geral com a base das categorias.
O jornal, em plena era da internet, pode ter um papel pedagógico?
Nossa experiência de dirigentes sindicais tem nos mostrado que o jornal impresso, com bons textos e fotos das atividades, não perdeu sua importância e atualidade. A comprovação disso é que a maioria dos sindicatos produzem seus próprios boletins. É evidente que devemos explorar as mídias alternativas, as redes sociais aumentam a cada dia a sua penetração no cotidiano da vida das pessoas. Mas o impresso não diminuiu em nada o seu caráter formal e o seu carisma. Ele segue sendo valorizado e respeitado pelos trabalhadores.
Quais os próximos passos no sentido da reorganização do movimento sindical nacional?
A fragmentação é, sem duvida, o grande problema da esquerda combativa. Após a falência da CUT ou sua total capitulação aos projetos eleitorais do PT ocorreram grandes rupturas. Porem, as organizações governistas – CUT, CTB, UNE, MST – seguem dirigindo a maioria da classe trabalhadora e também dos estudantes. Assim, estamos na verdade em uma encruzilhada: ganhar a consciência de milhões que seguem iludidos com o projeto petista e, ao mesmo tempo, batalhar de forma incansável pela unidade da esquerda. O movimento sindical, junto com os movimentos sociais e estudantis deve ser parte da construção do terceiro campo alternativo ao PT e seus aliados e contra a direita tradicional. Temos a expectativa que o “LUTE” possa ser um instrumento desta política.